Desconstruindo Idealizações: O Amor Real no Olhar da Psicanálise
- Elisabete Alves
- há 5 dias
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O Amor e o Processo de Individuação
Para Carl Jung, o amor é diretamente relacionado ao processo de individuação — a jornada de autoconhecimento e realização do potencial interno. Só quem se dedica a compreender suas próprias sombras e luzes pode amar de forma plena e oferecer o melhor de si ao outro.
Amar é um ato de coragem e consciência, pois implica em reconhecer o outro como um ser complexo, assim como nós mesmos.
A Idealização nas Redes Sociais e o Amor Perfeito
O cenário atual, alimentado por redes sociais e produções audiovisuais, constrói fantasias de amores perfeitos e relacionamentos sem conflitos. Séries, novelas e filmes, como o fenômeno das produções turcas, vendem uma imagem romantizada que, muitas vezes, gera expectativas irreais.
A psicanálise entende que essa idealização é uma defesa do ego contra as frustrações da realidade. Segundo Melanie Klein, lidamos com a dor psíquica projetando a perfeição fora de nós — inclusive nos relacionamentos amorosos.
O Amor em Tempos de Escassez Emocional
Christian Dunker aponta que vivemos tempos de exaustão emocional. Cansados do ódio e do medo, buscamos no amor uma experiência restauradora. Justamente por isso, o amor autêntico se torna cada vez mais valioso e escasso.
Entender o amor como um sentimento vivo e imperfeito é o primeiro passo para construir vínculos duradouros e reais.
O Término de Relacionamento Sob a Ótica Psicanalítica
O término amoroso é vivido como uma pequena morte simbólica. Freud já apontava que a perda de um objeto amado exige um trabalho de luto: a retirada da libido investida naquele vínculo para que possa ser redirecionada para novos investimentos afetivos.
Na clínica psicanalítica, técnicas como a análise da transferência — onde sentimentos inconscientes em relação a figuras do passado são reeditados com o analista — ajudam o paciente a elaborar o luto e resignificar suas perdas, fortalecendo o ego para novas relações.
Técnicas Psicanalíticas Para Elaborar Perdas Amorosas
Associação livre: Permitir que o paciente fale livremente para acessar conteúdos inconscientes ligados à dor da perda.
Interpretação dos sonhos: Trabalhar com os símbolos oníricos relacionados à separação e abandono.
Trabalho de luto: Ajudar o paciente a confrontar, nomear e elaborar o sofrimento da perda amorosa.
Fortalecimento do ego: Incentivar a autonomia emocional e a capacidade de suportar a frustração.
O Amor Como Risco e Renovação
Amar é aceitar o risco inerente de se machucar, de se transformar e, às vezes, de perder. Como diz a psicanálise, o amor é também um "veneno em potencial" — ele pode nos intoxicar se projetarmos no outro nossas carências, mas também pode nos curar se vivenciado com consciência.
Reflexão Final: Amor Se Vive, Não Se Idealiza
Clarice Lispector, com sua sensibilidade ímpar, sintetiza: "Tenho limites, um deles é o amor-próprio". Amar sem perder a si mesmo é o verdadeiro desafio. No amor, carregamos não apenas sentimentos, mas histórias, conflitos e sonhos.
Lembre-se: ao escolher alguém, estamos acolhendo também toda a sua trajetória emocional. Amar é, antes de tudo, aceitar que o amor real é imperfeito, mas absolutamente humano.
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